
Em tempos de MP3, falar em disco de vinil soa anacrônico, mero fetiche de colecionador. Mas grande parte da boa música brasileira permanece escondida na forma de LPs. Como parte de seu projeto de garimpagem dos arquivos de grandes gravadoras, o baterista dos Titãs, Charles Gavin, acaba de lançar 300 Discos Importantes Da Música Brasileira (Paz e Terra, 434 páginas, R$ 230). Em formato que imita um LP de 12 polegadas, o livro reúne capas e fotos de algumas das pérolas da MPB. A revista Época escolheu dez.
NOEL ROSA (1950)
Aracy de Almeida
No início da década de 50, Noel Rosa começava a ser esquecido. Aproveitando a onda do mercado americano de relançar discos de 78 rotações em edições de luxo, a gravadora Continental lançou as músicas do Poeta da Vila com arranjos de Radamés Gnatalli e pintura de Di Cavalcanti na capa. Além, claro, da voz de Aracy de Almeida, transformada para o resto da carreira na cantora de Noel Rosa.
COISAS (1965)
Moacir Santos
O compositor, maestro e instrumentista Moacir Santos reinventou a música de raízes afro e foi precursor de mestres como Baden Powell e Paulo Moura neste disco lançado depois da bossa nova. São dez obras-primas intituladas "Coisas", numeradas de 1 a 10. Algumas foram letradas e ficaram famosas. A "Coisa nº 5" ficou conhecida como "Nanã", a "Coisa nº 6" como "Dia de Festa", de Geraldo Vandré.
STONE FLOWER (1970)
Tom Jobim
Tom gravou dois discos lendários em três dias de abril e dois de maio de 1970: este e Tide. O álbum tem arranjos de Eumir Deodato e participação de músicos do calibre de Airto Moreira, Joe Farrell e Hubert Laws. A versão viajante de "Aquarela do Brasil", conduzida por Tom por dez minutos ao piano elétrico, ganhou fama universal.
BELELÉU, LELÉU, EU (1981)
Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia
Itamar sempre tentou ser um compositor popular, mas ficou conhecido como um dos expoentes da Vanguarda Paulistana, um movimento nada articulado que incluía artistas como Arrigo Barnabé e Eliete Negreiros. Aqui estão algumas de suas melhores canções.
NERVOS DE AÇO (1973)
Paulinho da Viola
Gravado logo após uma separação amorosa do cantor, a capa do disco gravado em 1973, feita pelo artista Elifas Andreato, resume o disco: Paulinho provoca lágrimas com suas interpretações de sambas desiludidos como a faixa-título de Lupicínio Rodrigues, ou na sofrida "Sentimentos", do compositor Mijinha, da Portela.
DO ROMANCE AO GALOPE NORDESTINO (1974)
Quinteto Armorial
Neste disco de estréia, o quinteto pernambucano buscou um diálogo entre os pífanos e as rabecas dos cantadores nordestinos com o cancioneiro medieval. A contracapa é do escritor Ariano Suassuna, inspirador do grupo com seu Movimento Armorial. Ao violino, um iniciante que ficaria famoso: Antônio Nóbrega.
OU NÃO (1973)
Walter Franco
O disco do compositor cabeça figura entre os maiores fracassos comerciais da MPB. Pudera: logo na capa, branca com uma mosca no meio, percebe-se que Walter não estava nem ligando para concessões. Letras quase concretistas com arranjos experimentais do começo ao fim. Às vezes enfadonho. Muitas vezes genial.
O ÚLTIMO MALANDRO (1958)
Moreira da Silva
O sambista criou o samba de breque, mais falado que cantado, ao discursar no meio da gravação de "Jogo Proibido", em 1936. Neste disco, Kid Morengueira prova ter sido não o último, mas o primeiro protótipo do malandro: de terno de linho, chapéu-panamá e sapato branco, deu de beber a sambistas futuros como Bezerra da Silva.
AO VIVO EM TATUÍ (1992)
Renato Teixeira & Pena Branca e Xavantinho
Espécie de primogênito da reação à banalização da música caipira iniciada nos anos 90, este disco é um dos poucos representantes do sertanejo de raiz do livro.
RACIONAL – VOLUME 1 (1974)
Tim Maia
A conversão do cantor à seita Racional rendeu um Tim Maia careta, de cabelos curtos e sensato. Ou quase, como provam as impenetráveis pregações em forma de letras deste disco cult, verdadeira jóia do funk gospel nacional.
(Fonte: Revista Época)
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