03/02/2009

Crônicas de Mil Coisas

Educar é preciso

Usha Velasco*

Pais recorrem à Justiça para resolver conflito com os filhos. Esse desconcertante título foi ao ar no Globo online (veja postagem abaixo). A matéria mostra que as demandas judiciais variam do grave ao trivial; há desde denúncias de agressões físicas até pais tão desorientados que chegam a pedir ao juiz uma lista do que a criança pode e não pode fazer.

A reportagem ouviu a conselheira Andréa Pachá, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela acha que a família antigamente era estruturada de maneira mais vertical, e a autoridade nem sequer era discutida: “As novas famílias, resultado de sucessivos divórcios e novos casamentos, são mais democráticas e não encontraram espaço para impor limite.”

Será? A tendência é que as novas famílias realmente resultem de sucessivos divórcios e novos casamentos; também é natural que elas sejam mais democráticas. Mas isso leva mesmo à perda da capacidade de educar os filhos?

Lembro de uma criança de cinco anos de idade que ficou comigo no escritório, esperando o pai. Eu tinha um Toblerone aberto na mesa. A menina chegou, falou “oba, chocolate” e deu uma dentada, sem a menor cerimônia. Eu podia ter deixado passar, mas, mãe calejada, tive outra reação. Disse, sem drama: “Olha, quando você quiser uma coisa que não é sua, é melhor pedir ao dono. Senão, a pessoa pode ficar chateada.”

Ela me olhou com a maior atenção. As crianças são criaturinhas abertas, absorvem as coisas com facilidade e prazer. Ela gostou de me ouvir. Estava aprendendo uma novidade! Aos cinco anos, descobriu algo que minhas filhas sabiam desde sempre: se não é seu, não pode pegar.

Educar é uma tarefa cotidiana. Acontece a cada minuto. Dá um trabalho danado; é preciso estar sempre alerta, sempre presente, sempre dialogando. Acho que muitos pais simplesmente têm preguiça – independente do tipo de família, tradicional ou não.

Limite é assim: impõe quem pode, obedece quem tem juízo. Quem não impõe desde cedo pode realmente acabar numa sala de audiências, ajudando a engarrafar o nosso já tão sobrecarregado sistema judiciário.


*Usha Velasco é jornalista do Sindjus-DF e publica as Crônicas da Rede semanalmente.

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