08/04/2009

ARTIGO


O casamento que mata aos poucos

Cristiane Segatto*


Um estudo de psicologia divulgado há alguns dias nos Estados Unidos demonstra como um casamento infeliz é capaz de destruir a saúde do coração. A imprensa deu pouca atenção ao trabalho apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Psicossomática pela psicóloga Nancy Henry, da Universidade de Utah.
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Ela recrutou 276 casais com idades entre 40 e 70 anos. Eram uniões duradouras, de 20 anos, em média. Nancy investigou a qualidade desses casamentos a partir de parâmetros como suporte mútuo, envolvimento emocional e frequência de desentendimentos sobre sexo, filhos e dinheiro. Os participantes também passaram por avaliações médicas como exames de sangue, medidas da pressão arterial e da circunferência da cintura.
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Nancy descobriu que uniões desgastadas podem provocar depressão tanto nas mulheres quanto nos homens. Mas as mulheres que vivem casamentos infelizes parecem estar mais sujeitas a desenvolver sintomas fisiológicos da chamada síndrome metabólica, que aumenta o risco de infarto, AVC e diabetes. Ela é caracterizada por sinais como acúmulo de gordura abdominal, hipertensão, excesso de açúcar no sangue, baixos níveis de colesterol bom e excesso de triglicérides.
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Por que as mulheres sofrem mais? "As mulheres parecem basear o conceito que elas têm de si mesmas na qualidade das relações que elas vivem. Talvez por isso um casamento ruim tenha um impacto tão grande na sua saúde física e emocional", diz Nancy.
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Perguntei a dois cardiologistas brasileiros se as conclusões do estudo são plausíveis. Raul D. Santos, do Instituto do Coração, em São Paulo, diz que sim. Ele explica que vários estudos epidemiológicos associam a depressão e a raiva com a síndrome metabólica. A maneira mais simplista de explicar a relação seria que a pessoa deprimida ou com forte stress psicológico abandona medidas saudáveis de estilo de vida. Fuma mais, não vê razão para fazer atividade física e come mal.
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Existem também mecanismos metabólicos envolvidos nisso. O stress aumenta as descargas do hormônio cortisol. Essa substância contribui para o acúmulo de gordura abdominal, aumento da pressão arterial e da resistência à insulina (o que desencadeia o diabetes). O cardiologista Marcelo Assad, do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio, tem a mesma opinião. "A depressão é indiscutivelmente a doença do século. A manutenção de um relacionamento falido perpetua um ciclo de stress, diminuição da autoestima e falta de perspectivas", afirma.

Fonte: revista Época. Leia o artigo completo aqui.


* Cristiane Segatto é repórter especial de Época, escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de dez prêmios nacionais de jornalismo.
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